Corujas inspiram solução contra ruído de motores
Material desenvolvido na China reduz em 58% o barulho de veículos e fábricas
Por: Iago Bacelar
03/07/2025 • 19:00
Um aerogel de duas camadas desenvolvido por cientistas da Universidade Tiangong, na China, conseguiu reduzir em 58% o ruído de motores a combustão. O material inovador foi criado com base na estrutura das penas e da pele das corujas, aves reconhecidas pela habilidade de voar em absoluto silêncio.
A descoberta foi publicada na revista científica ACS Applied Materials & Interfaces. A invenção poderá, no futuro, ser aplicada para reduzir o barulho de veículos e ambientes industriais, contribuindo para a redução da poluição sonora em centros urbanos.
Corujas são referência em silêncio e eficiência
O segredo do voo silencioso das corujas está na estrutura natural de suas penas e pele, que atuam como amortecedores acústicos. Essa habilidade é resultado da combinação entre superfície porosa e fibras macias, capazes de absorver sons em diversas frequências.
“A extrema discrição das corujas tem explicação nas suas penas e pele macia”. De acordo com os pesquisadores, essas características “servem para amortecer naturalmente o som”. Qualquer ruído de alta ou baixa frequência acaba sendo absorvido pelo corpo do animal, permitindo que ele se aproxime das presas sem ser percebido.
Com base nessa estrutura, os cientistas criaram um material composto por uma camada porosa inferior e uma camada superior de nanofibras de silício, semelhante às penas da coruja.
Aerogel supera materiais acústicos tradicionais
O novo aerogel apresentou desempenho superior aos isolantes acústicos convencionais, como os feitos de fibra de feltro. Esses materiais, usados atualmente, absorvem ruídos de forma limitada e são mais eficazes em frequências específicas, como barulhos de freio ou motores de caminhão.
Nos testes realizados, o aerogel foi capaz de reduzir o ruído de um motor automotivo de 87,5 decibéis para 78,6 decibéis, nível considerado seguro segundo parâmetros internacionais. Além disso, o material demonstrou alta resistência e durabilidade, mantendo sua forma mesmo após 100 ciclos de compressão, com mínima deformação.
Essa característica torna o produto uma alternativa viável para ambientes ruidosos e aplicações em larga escala, como veículos, fábricas e turbinas eólicas.
Aplicações futuras incluem carros, aviões e fábricas
A pesquisa se soma a outros estudos anteriores que também exploraram a biomimética das corujas. Cientistas já usaram o animal como modelo para criar aerofólios mais silenciosos em aviões, drones e turbinas. Agora, o foco se volta para o uso em ambientes terrestres, com destaque para os motores a combustão, que continuam a ser uma das principais fontes de barulho em áreas urbanas.
Com a ampliação da produção desse aerogel, a expectativa é que a tecnologia possa ser incorporada a novos modelos de carros ou ser adaptada para veículos já existentes. O mesmo vale para instalações industriais e linhas de produção, que frequentemente operam com altos níveis de ruído contínuo.
Além do conforto auditivo, a redução do barulho representa ganhos para a qualidade de vida em áreas densamente povoadas, onde o som dos motores e equipamentos industriais pode provocar estresse, insônia e outros impactos na saúde.