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Governo Lula resgata verde e amarelo para reforçar discurso de soberania

Planalto aposta no uso de símbolos nacionais e acusa oposição de agir contra os interesses do país

Por: Lorena Bomfim

20/07/202509:33

Diante do desgaste do ex-presidente Jair Planalto aposta no uso de símbolos nacionais e acusa oposição de agir contra os interesses do país Bolsonaro (PL) e das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem intensificado o uso das cores verde e amarela e da bandeira nacional em ações de comunicação e eventos oficiais. A estratégia busca reforçar o discurso de defesa da soberania brasileira e desvincular os símbolos nacionais da imagem do bolsonarismo.

Imagem do Presidente Lula
Foto: Foto: Ricardo Stuckert

O movimento ganhou força após o anúncio da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, medida atribuída ao ex-presidente norte-americano Donald Trump. Em resposta, o Palácio do Planalto passou a adotar uma estética mais nacionalista, tanto nas redes sociais quanto em aparições públicas de autoridades.

A mudança ficou evidente no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado em Goiânia na última quinta-feira. No evento, a maioria do público vestia a camisa amarela da seleção brasileira, assim como diversos integrantes do governo que acompanharam o presidente. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, usava uma jaqueta amarela. Já a ministra da Cultura, Margareth Menezes, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), vestiam azul — cores predominantes da bandeira nacional. Lula, por sua vez, usava uma camisa vermelha, mas o tom patriótico predominou no ambiente.

Durante seu discurso, o presidente citou a bandeira brasileira ao criticar Bolsonaro e a aproximação com Trump.

— Agora, (Bolsonaro) manda o filho dele para os EUA: “vai lá pedir para o Trump me absolver”. E fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso. Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela de volta. Ela vai voltar a ser do povo brasileiro — afirmou Lula.

Desde o anúncio da tarifa, o governo tem buscado associar a imagem do ex-presidente e de seus aliados à ideia de traição aos interesses nacionais. A equipe de comunicação do Planalto tem enfatizado que Lula atua em defesa da economia brasileira, promovendo medidas como a taxação dos super-ricos e a proteção das empresas nacionais.

A retórica também tem sido incorporada às redes sociais do governo. Um vídeo com o título “Sextou com S de Soberania” ganhou destaque na última semana. Com trilha sonora em ritmo de samba e forte apelo nacionalista, a peça traz a mensagem: “Não mexe com meu Brasil, não mexe com minha gente. Nosso país é soberano, você vai ter que respeitar. Em nosso coração, é o Brasil em primeiro lugar.”

Na quarta-feira, o governo reagiu com ironia à abertura de uma investigação comercial pelos Estados Unidos contra o Brasil. Uma publicação nas redes sociais trazia a frase “O Pix é nosso, my friend”, em referência ao sistema de pagamentos instantâneos brasileiro. A legenda dizia: “Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu?”

O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), reforçou o posicionamento oficial:

— A soberania do Brasil é intocável. O esforço do nosso governo é resolver esse impasse com diálogo com setores econômicos do Brasil e dos Estados Unidos. As duas nações precisam desse diálogo, e é isso que o governo Lula está fazendo. Medidas extremas só em último recurso. Não vamos jamais negociar a nossa soberania — declarou.

Aliados do presidente reconhecem que a repercussão do tarifaço tem potencial eleitoral. O Palácio do Planalto avalia que a medida dos EUA representa um desgaste para a oposição, especialmente para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), possível nome à sucessão presidencial.

Internamente, o governo já articula slogans como “o projeto de Lula é taxar os super-ricos, o de Bolsonaro é taxar o Brasil”, expressão cunhada logo após a medida ser anunciada em 9 de julho, em carta enviada por Donald Trump a Lula.

Tom de campanha

Paralelamente ao reposicionamento simbólico e político, Lula tem adotado um tom que antecipa o clima eleitoral. Durante visita às obras da Ferrovia Transnordestina, em Missão Velha (CE), na última sexta-feira, o presidente indicou que pode disputar um quarto mandato em 2026.

Embora tenha dito que a decisão será tomada apenas naquele ano, deixou clara sua disposição:

— Se eu estiver com saúde, vou para as ruas para não entregar o país de volta a um bando de malucos — afirmou, em referência ao campo político bolsonarista.

Com a inelegibilidade de Bolsonaro, o petista pretende polarizar com os nomes que surgirem como seus herdeiros políticos, apostando na defesa da soberania nacional como um dos pilares centrais do discurso rumo a 2026.