M3GAN 2.0 tenta ser tudo e falha como sequência
Sequência abandona o horror e aposta em ação e sátira sem coesão
Por: Iago Bacelar
09/07/2025 • 11:08
Dois anos após os eventos do primeiro filme, M3GAN 2.0 chega aos cinemas com a missão de expandir o universo da boneca androide que viralizou nas redes sociais. Dirigido por Gerard Johnstone, o novo longa apresenta uma trama centrada em uma ameaça ainda maior, mas entrega uma mistura de gêneros que compromete a coesão narrativa e se distancia completamente do suspense que marcou o filme original.
Nova trama abandona o medo e mergulha na ação
No enredo, Gemma (Allison Williams) ressurge como uma ativista que defende o uso responsável de inteligências artificiais por crianças. A personagem decide reativar M3GAN para enfrentar uma nova ameaça: a IA militar Amelia, que se torna autoconsciente e passa a representar risco global à humanidade. A proposta inicial, com viés apocalíptico, promete tensão, mas o resultado é um filme que aposta em ação genérica e sem impacto visual.
Ao contrário do original, que ainda tentava equilibrar terror com momentos cômicos involuntários, M3GAN 2.0 abandona qualquer vestígio de horror. A estética do filme se aproxima mais de obras como Missão Impossível e Matrix, mas sem a sofisticação ou o apelo visual dessas produções. As cenas de luta, marcadas por coreografias exageradas, e os efeitos especiais sem força evidenciam a dificuldade do longa em sustentar a nova proposta.
Falta de foco prejudica o desenvolvimento da história
O roteiro de Johnstone salta entre estilos de maneira desordenada. O filme tenta trafegar entre ficção científica, suspense, sátira e comédia pastelão, mas não se aprofunda em nenhum desses caminhos. A tentativa de humor se apoia em situações constrangedoras e piadas mal posicionadas, enquanto o terror é completamente ausente. Não há atmosfera, sustos ou qualquer elemento que remeta ao gênero original.
Além disso, o longa evita cenas de violência gráfica para manter uma classificação indicativa mais ampla. A ausência de elementos característicos do horror contribui para a sensação de que M3GAN 2.0 não sabe a que público se destina.
Reflexões sobre IA são apenas superficiais
Apesar do cenário envolvendo o uso de tecnologias avançadas, o longa não explora de forma consistente o debate sobre regulação das inteligências artificiais. A discussão aparece brevemente, quando o roteiro toca na urgência de fiscalizar o desenvolvimento de IAs e os riscos da autorregulação sem controle externo, mas o tema logo se perde em meio à confusão narrativa.
O uso de jargões técnicos sem contexto e soluções narrativas simplificadas transforma a trama em um amontoado de informações tecnológicas sem profundidade. O potencial para um comentário crítico mais elaborado é desperdiçado por falta de consistência e foco.
Referências pop mal aproveitadas marcam o roteiro
Em meio ao caos narrativo, o filme ainda tenta atrair o público com referências a obras conhecidas. Um dos poucos momentos que causam alguma identificação é a citação à série dos anos 1980 Super Máquina, que funciona como uma homenagem nostálgica. No restante, o longa se contenta em citar influências como Metrópolis, O Enigma de Outro Mundo e até Lucy, de Luc Besson, mas sem desenvolvê-las de forma relevante.
Ao final, o que se vê é um conjunto de ideias desconectadas, diálogos rasos e reviravoltas previsíveis. Para quem esperava uma continuidade do terror pop que tornou M3GAN um fenômeno digital, o novo filme representa uma ruptura sem justificativa. O abandono do gênero de origem e a tentativa de se transformar em um blockbuster genérico resultam em uma experiência confusa e esquecível.
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