Tarifa dos EUA ameaça 10 mil empregos na indústria baiana, aponta Fieb
Setores de celulose, pneus e cacau serão os mais afetados; prejuízo pode chegar a R$ 2,6 bilhões no primeiro ano
Por: Lorena Bomfim
17/07/2025 • 09:51
Uma estimativa da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) aponta que cerca de 10 mil empregos na indústria baiana podem ser impactados com a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, deve afetar diretamente setores como celulose, pneus e cacau.
Segundo o presidente da Fieb, Carlos Henrique Passos, a taxação encarece os produtos brasileiros no mercado americano, tornando-os menos competitivos. “Para algumas empresas, o mercado dos EUA representa até 30% da produção. Se não conseguirem manter esse mercado e nem redirecionar os produtos, a produção será reduzida e, em casos extremos, inviabilizada”, afirma.
De acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI), a medida pode causar um prejuízo de aproximadamente US$ 470 milhões ao estado no primeiro ano — o equivalente a R$ 2,6 bilhões. Atualmente, os EUA são o terceiro maior destino das exportações industriais da Bahia, atrás apenas da China e do Canadá. Somente no primeiro semestre deste ano, o estado exportou US$ 440 milhões para o mercado americano.
Indústria busca alternativas
Diante do novo cenário, a indústria baiana deverá buscar novos mercados para absorver a produção. No entanto, o coordenador de Conjuntura Econômica da SEI, Arthur Cruz, destaca que a tarefa envolve desafios como custos logísticos e exigências técnicas. “Um produto competitivo nos EUA pode não ter o mesmo desempenho em outros países. A União Europeia, por exemplo, impõe barreiras não tarifárias rígidas”, explica.
Segundo estudo da SEI, cerca de 210 mil pessoas na Bahia estão ligadas à produção de bens exportados para os Estados Unidos. Os impactos, porém, devem variar entre os setores. Empresas de grande porte tendem a lidar melhor com a crise, enquanto pequenos e médios produtores devem enfrentar mais dificuldades.
Efeitos sobre o mercado interno
O economista Edval Landulfo, vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon), avalia que ainda é cedo para mensurar o impacto total no emprego. Ele acredita que parte da produção pode ser absorvida pelo mercado interno, o que evitaria demissões imediatas e até poderia provocar redução nos preços de alguns produtos.
Retaliação e reconfiguração global
A decisão do governo norte-americano foi justificada por Trump com acusações de censura a plataformas de mídia social dos EUA e de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A atitude, considerada interferência política por especialistas, provocou reação do governo brasileiro. O presidente Lula regulamentou a Lei de Reciprocidade Comercial, que permite suspender concessões comerciais a países que impõem barreiras unilaterais.
Para o professor Henrique Oliveira, da Universidade Salvador (Unifacs), a medida dos EUA sinaliza um desgaste na hegemonia comercial americana. “Não é comum taxar todos os produtos de um país. Isso reflete a tentativa dos EUA de reagir à perda de protagonismo no comércio global”, analisa.
Ele destaca ainda que o cenário pode abrir oportunidades para o Brasil investir em produtos de maior valor agregado. “A Bahia, por exemplo, exporta cacau para os EUA produzirem chocolate. É hora de pensar em agregar valor aqui, focando em mercados de luxo, menos afetados por tarifas do que commodities”, conclui.
Além do Brasil, países como Malásia, Coreia do Sul e Canadá também foram alvo de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.