Arqueólogos descobriram, no sítio arqueológico da antiga cidade maia de Caracol, em Belize, o túmulo de Te K’ab Chaak, identificado como o primeiro governante local. A informação foi divulgada pela Universidade de Houston, que participa das escavações.

Segundo os pesquisadores, Te K’ab Chaak teria subido ao trono por volta do ano 331 d.C. e fundado uma dinastia que durou mais de quatro séculos. O corpo foi encontrado na acrópole nordeste de Caracol, uma área elevada utilizada para residências da realeza e cerimônias públicas.

A tumba estava localizada em uma estrutura datada de aproximadamente 350 d.C. Os arqueólogos estimam que o governante media cerca de 1,70 metro, não possuía mais dentes e faleceu em idade avançada.

Escavação histórica conduzida por casal que atua há 40 anos na região

A descoberta foi feita pelos arqueólogos Diane e Arlen Chase, que escavam a região há mais de quatro décadas. Diane declarou que, até então, nunca haviam encontrado alguém identificado com clareza como governante de Caracol.

“Nunca antes havíamos encontrado alguém que pudéssemos identificar como sendo governante de Caracol, então isso por si só já é surpreendente”, disse Diane Chase ao jornal The New York Times.

Melissa Badillo, diretora do Instituto de Arqueologia de Belize, destacou a relevância do achado, citando o bom estado de preservação do corpo, algo incomum devido à umidade local.

Túmulo contém peças de jade, cerâmica e ossos esculpidos

Além do esqueleto, os arqueólogos encontraram conchas marinhas, vasos de cerâmica com desenhos religiosos, contas tubulares de jade, ossos decorados e uma máscara mortuária em mosaico de jade. Os desenhos gravados retratam animais como beija-flores, corujas e macacos, segundo Arlen Chase.

“São coisas que nunca tínhamos visto antes”, afirmou o pesquisador, destacando a originalidade dos itens encontrados dentro da sepultura.

Esses objetos indicam que Te K’ab Chaak mantinha contatos culturais e religiosos com outras regiões da Mesoamérica, mesmo distantes de Caracol.

Caracol foi um dos maiores centros urbanos maias

A cidade de Caracol, localizada no distrito de Cayo, no centro de Belize, foi um dos maiores assentamentos das terras baixas maias, especialmente entre os séculos VI e VII. A estimativa é que tenha abrigado mais de 100 mil habitantes em seu auge.

A área arqueológica inclui terraços agrícolas, monumentos, calçadas e templos, distribuídos por mais de 177 quilômetros quadrados. A construção mais conhecida é a pirâmide de Caana, que possui 43 metros de altura e permanece como uma das mais altas estruturas do país.

A cidade entrou em declínio por volta do ano 900 d.C., por razões ainda desconhecidas pelos arqueólogos.

Relações com Teotihuacán ainda são estudadas

Embora já tenham sido encontradas lâminas de obsidiana em Caracol em 2010, o que sugere influência ou contato com Teotihuacán, no centro do México, os pesquisadores ressaltam que a tumba descoberta é anterior a esse período.

Arlen Chase explicou que os objetos encontrados indicam uma relação diplomática ou ritual entre as regiões, ainda que Teotihuacán esteja a mais de 1.200 km de distância.

“Tanto o centro do México quanto a zona maia estavam claramente cientes das práticas rituais um do outro”, declarou Chase.

Ele acredita que os governantes de Caracol podem ter mantido relações diretas com outras cidades importantes da Mesoamérica. No entanto, estudiosos como Gary Feinman, do Museu Field de Chicago, sugerem cautela ao interpretar essas evidências.

“Eles têm evidências de algum tipo de conexão com Teotihuacán, mas qual seria o mecanismo dessa conexão – uma pessoa? Ideias? – é mais difícil de dizer”, afirmou Feinman, que não participou da escavação. Ele ressaltou que prefere analisar os dados em publicações científicas antes de emitir conclusões definitivas.

Conexões culturais ampliam compreensão sobre a civilização maia

O achado em Caracol oferece novos elementos sobre as redes de poder, comércio e espiritualidade entre os maias e outras civilizações mesoamericanas. A presença de elementos típicos de Teotihuacán reforça a ideia de uma integração cultural extensa, e não um isolamento dos povos da região.

A descoberta de Te K’ab Chaak pode abrir novos caminhos para o estudo da dinastia fundadora de Caracol e dos intercâmbios políticos e rituais entre grandes centros urbanos pré-colombianos.