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Novas espécies de fungo são descobertas na Antártica

Fungos resistem a frio e têm papel no ecossistema polar

Por: Iago Bacelar

12/07/202510:54

Quatro novas espécies de cogumelos foram identificadas por pesquisadores brasileiros em regiões remotas da Antártica. As descobertas pertencem ao gênero Omphalina e foram batizadas como Omphalina deschampsiana, Omphalina ichayoi, Omphalina frigida e Omphalina schaeferi.

Novas espécies de fungo são descobertas na Antártica
Foto: Divulgação

Pesquisa foi realizada com apoio do Proantar

O trabalho é resultado da atuação do Laboratório de Taxonomia de Fungos da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), localizado em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Com o suporte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), da Marinha e da Força Aérea Brasileira, a equipe passou dois meses no continente, sendo 30 dias totalmente acampados, sem acesso à internet ou à comunicação externa.

Condições extremas desafiaram os cientistas

Durante o trabalho de campo, os pesquisadores enfrentaram condições severas. "Enfrentamos um grande episódio de chuva em campo, manter o acampamento e o material seco virou uma tarefa quase impossível", contou o Doutor em Ciências Biológicas Fernando Augusto Bertazzo da Silva. Segundo ele, uma madrugada de ventania com rajadas acima de 100 km/h colocou à prova toda a estrutura montada.

Análise das amostras levou dois anos

As amostras coletadas foram congeladas e trazidas ao Brasil, onde passaram por análises morfológicas e moleculares. O processo, que envolveu a identificação de esporos e o sequenciamento de DNA, levou cerca de dois anos até a publicação dos resultados na revista científica internacional Mycological Progress.

Adaptações revelam resistência ao ambiente

Os fungos identificados têm papel importante na reciclagem de nutrientes, decomposição de matéria orgânica e formação de associações com plantas e musgos. "Isso mostra adaptações especiais para sobreviver ao frio extremo e ao solo pobre em nutrientes", explicou Fernando. Essas características incluem formato dos esporos, coloração e interações com gramíneas antárticas.

Estudo destaca importância da ciência brasileira

Para Fernando, a descoberta reforça a necessidade de investimento em ciência e tecnologia. "O aumento da temperatura na Antártica pode alterar o equilíbrio desses ecossistemas e favorecer o surgimento de novas espécies, mas também ameaça a biodiversidade já existente", afirmou. Segundo ele, entender o funcionamento desses organismos é essencial para avaliar o impacto das mudanças climáticas na região.

Possível aplicação futura em biotecnologia

Embora o estudo esteja no campo da ciência pura, há potencial para aplicações futuras. "Descobrir novas enzimas ou compostos em organismos extremos é uma possibilidade real", disse Fernando. Esses compostos podem ter valor biotecnológico ou farmacêutico.

Monitoramento e novas expedições estão nos planos

Com a publicação do artigo, a equipe planeja monitorar as áreas estudadas e investigar como a biodiversidade local responde às alterações ambientais. "A Antártica é um grande laboratório natural, e ainda temos muito a aprender sobre a biodiversidade que vive escondida debaixo do gelo", concluiu Fernando.