Contaminação de ração mata 245 cavalos e aciona Mapa em quatro estados
Mapa detecta alcaloides em ração e determina suspensão da produção
Por: Iago Bacelar
15/07/2025 • 16:00
O Ministério da Agricultura (Mapa) confirmou nesta segunda-feira que uma contaminação inédita de ração provocou a morte de pelo menos 245 cavalos nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas. A investigação aponta que as rações equinas da Nutratta Nutrição Animal Ltda estavam contaminadas por alcaloides pirrolizidínicos, especialmente a substância monocrotalina, altamente tóxica.
Primeira denúncia chegou em maio
Os primeiros casos foram recebidos em 26 de maio pela Ouvidoria do Mapa. Desde então equipes têm coletado amostras em fazendas onde os cavalos adoeceram ou morreram, enquanto animais que não consumiram a ração permaneceram saudáveis mesmo convivendo nos mesmos espaços.
Um dos casos mais impactantes ocorreu em Alagoas, onde morreu o garanhão Quantum de Alcatéia, um animal de estimação valioso, avaliado em R$ 12 milhões e conhecido na raça Mangalarga Marchador.
Análise detecta alcaloides tóxicos
Os Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA) analisaram as amostras e detectaram monocrotalina, substância proibida por causar sérios danos neurológicos e hepáticos nos animais mesmo em baixas concentrações. O secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, relatou que o episódio é inédito na história do órgão:
“Esse é um caso único. Nunca, em toda a história do Ministério, havíamos identificado a presença dessa substância em ração para equinos. É a primeira vez que isso acontece”
Goulart reforçou que a lei não permite qualquer presença dessa substância nos produtos destinados à nutrição animal.
Causa atribuída a falha na matéria-prima
O Mapa afirma que a contaminação ocorreu por falha no controle da matéria-prima, que continha resíduos de plantas do gênero crotalaria — alimento comum de equinos mas fonte de alcaloides tóxicos — resultando na produção com monocrotalina.
Medidas adotadas e decisões judiciais
Em função do risco, o Mapa instaurou processo administrativo, lavrou auto de infração e determinou a suspensão cautelar da fabricação e comercialização das rações da Nutratta destinadas a equídeos. A restrição foi depois estendida para produtos de todas as espécies animais.
A Nutratta obteve decisão judicial autorizando a retomada parcial das atividades, excluindo produtos para equídeos. O Mapa já recorreu da decisão, apresentando novas análises que reforçam os riscos sanitários e justificam a manutenção da suspensão.
Mapa intensifica fiscalização e recolhimento
Goulart destacou que as ações de fiscalização serão ampliadas, com monitoramento constante da empresa e de novos lotes produzidos para evitar novas ocorrências.
“Estamos acompanhando de perto. Precisamos garantir que todo o lote contaminado seja recolhido e que nenhum novo caso aconteça”, concluiu o secretário
Segundo o Mapa, a prioridade é preservar a saúde animal e assegurar segurança na cadeia produtiva, exigindo controle rigoroso de qualidade na alimentação animal.
Posicionamento da Nutratta
Em nota de 11 de julho a fabricante afirmou sentir “profunda solidariedade” pelas perdas no setor e justificou a demora em se manifestar por respeito à investigação técnica. A empresa afirmou que coopera com órgãos oficiais, reforçou que a interdição ocorreu de forma preventiva e destacou que aplica tecnologia de extrusão de fibras em rações com mais de 13 anos de atuação no mercado.
A Nutratta afirmou que não houve problemas com rações bovinas, que seguem sendo comercializadas normalmente. A empresa disse também que aguarda resultados oficiais dos laboratórios para comunicar os clientes com transparência.
Potencial impacto econômico e legal
O Mapa estima que o prejuízo para criadores seja significativo, considerando a morte de animais valiosos e o risco à reputação da indústria de nutrição animal. A atuação do ministério visa responsabilizar os envolvidos e evitar implicações maiores, com foco na integridade do setor.
Episódio inédito mobiliza o setor e requer atenção
O episódio ganha atenção nacional pela gravidade dos casos e pela necessidade de controles mais rígidos no uso de insumos na produção agropecuária. O Mapa reforça que mantém uma linha aberta de comunicação com a sociedade e que espera dos fabricantes compromisso com a exigência legal e protocolar da alimentação animal.
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