Morcegos e o segredo anticâncer
Genes únicos podem ajudar na cura da doença
Por: Ana Beatriz Fernandez Martinez
06/07/2025 • 12:00
Um estudo publicado na Nature Communications revelou que algumas espécies de morcegos conseguem viver até 35 anos — o que seria equivalente a cerca de 180 anos para os humanos — e quase nunca desenvolvem câncer. A descoberta pode abrir novos caminhos para terapias inovadoras contra a doença.
Pesquisadores da Universidade de Rochester investigaram como esses mamíferos, que pesam menos de 30 gramas e têm metabolismo acelerado, conseguem evitar o surgimento de tumores — algo que, em teoria, seria mais provável nesse tipo de organismo.
O segredo está nos genes
Os morcegos possuem uma característica genética impressionante: enquanto os seres humanos têm duas cópias do gene TP53, conhecido por sua ação na supressão de tumores, os morcegos têm até oito. Essa quantidade extra de proteína p53 funciona como um escudo adicional, eliminando células defeituosas antes que se tornem cancerígenas.
Outro diferencial está na telomerase, enzima que ajuda a renovar as células. Em outros mamíferos, sua atividade prolongada pode favorecer o câncer. Nos morcegos, no entanto, o excesso de TP53 parece manter esse processo em equilíbrio, promovendo renovação celular sem aumentar os riscos.
Defesa imunológica eficiente
Os morcegos também se destacam por terem um sistema imunológico altamente eficaz. Segundo a pesquisadora Vera Gorbunova, coautora do estudo, esses animais conseguem neutralizar vírus perigosos e impedir a proliferação de células alteradas sem causar inflamações prejudiciais — algo comum no envelhecimento humano.
Esse equilíbrio ajuda a proteger o DNA de danos ao longo da vida, reduzindo significativamente o risco de mutações associadas ao câncer.
Potencial para tratamentos humanos
A descoberta pode influenciar o desenvolvimento de novos tratamentos e estratégias de prevenção. Já existem fármacos que atuam no gene TP53, mas o modelo apresentado pelos morcegos indica que aumentar sua atividade com segurança pode ser promissor.
Os cientistas também avaliam a possibilidade de modular a telomerase de forma controlada, favorecendo a regeneração celular sem abrir espaço para o câncer. "A chave pode estar em reforçar a ação da p53 ou regular melhor a telomerase", afirmam os autores.
Mais uma vez, a natureza oferece pistas valiosas para o avanço da medicina.
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