Emicida usa da memória para enfrentar a dor em novo disco
Álbum é o primeiro inédito do artista em seis anos
Por: Gabriel Pina
12/12/2025 • 20:00
No finalzinho de 2025, o rapper paulista Emicida resolveu presentear o público com seu novo disco: "Emicida Racional VoL.2: Mesmas Cores e Mesmos Valores", nome que traz uma releitura do disco do grupo Racionais MC’s “Cores e Valores”, de 2014. Com produção do próprio artista, além de parcerias com Damien Seth e Fejuca, o projeto inédito surge seis anos desde o brilhante “AmarElo” e pode ser traduzido como um mergulho fundo nas memórias do artista como forma de encarar a dor.
"Emicida Racional VoL.2” chega após um período pessoal turbulento na vida do artista, marcado pelo afastamento do irmão, o produtor musical Fioti, além da dor pelo luto frente ao falecimento de sua mãe, a escritora Dona Jacinta, em julho deste ano.
Nesse sentido, já era esperado encontrar marcas da dor no projeto. Mas a forma com que o artista escolhe trazer esses sentimentos ao público surpreende. O disco abre com a faixa “Bom dia né gente? (ou saudade em modo maior)”. A voz materna nos áudios de Dona Jacira enviados para o rapper se transformam em música, ao longo de seis minutos.
Mas, no fim, as memórias sonoras são cortadas pelo silêncio, que logo é abafado pelo som do choro de Emicida. O artista faz questão de retratar a dor sem pudor, o que torna a faixa uma das mais potentes de toda sua discografia.
Outro ponto forte do disco são as várias homenagens aos Racionais que surgem no disco. Em entrevistas, o rapper já chegou a dizer que o grupo salvou sua vida. Nesse sentido, frente à dor, Emicida parece se apegar à força musical dos artistas para se salvar novamente.
Um dos destaques estão na faixa “A mema praça”, o cenário principal é a Praça da Sé durante o show dos Racionais na Virada Cultural de 2007, evento marcado pela brutalidade policial contra o público. Novamente, a memória assume força total. Mas aqui, aparece de forma compartilhada, com os artistas Rashid e Projota.
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Já em “Quanto vale o show memo?”, as lembranças da infância na Zona Norte de São Paulo constroem uma verdadeira linha cronológica, misturada por memórias pessoais e acontecimentos marcantes para a geração das décadas de 1980 e 1990.
“O adeus pra Gonzaguinha e Cazuza
Vida Confusa, pique Yakuza
Mais velhos com volume sob a blusa
Quebrada toda uma zona
Ano seguinte, Olimpíada em Barcelona
Nóis tipo trumbo, fazendo Jumbo
111 presos mortos no Carandiru, vislumbrei a peita da UMBRO
Aos pobres, sempre restam só medalhas de chumbo”
Desde a capa, onde uma poltrona em escritório rodeado de livros e pelo verde das plantas, a esfera de intimidade está presente a todo momento no disco. Aqui, não é preciso ser fã do artista e nem do gênero para se sentir impactado e provocado a entender mais sobre tudo que o rapper compartilha.
"Emicida Racional VoL.2” uma verdadeira joia na discografia de Emicida e um dos melhores lançamentos musicais de 2025. Ao longo das dez faixas, o projeto deixa claro que a memória é um grande fio condutor, para a dor, para a celebração, e sobretudo, para a vida.
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