Lula promete cobrar impostos de empresas digitais dos EUA e endurece fala contra big techs
Presidente critica pressão externa e promete defesa da soberania nacional
Por: Iago Bacelar
18/07/2025 • 08:20 • Atualizado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “chantagem inaceitável” a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, Lula afirmou que a medida se baseia em informações falsas e recebeu apoio de políticos do Brasil que ele chamou de "traidores da pátria".
Durante o discurso de quase cinco minutos, o chefe do Executivo disse que ainda aposta no diálogo, mas deixou claro que não descarta ações retaliatórias nem o uso de recursos legais na Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Lula, a tentativa de interferência nos assuntos internos do Brasil viola princípios fundamentais da soberania.
Presidente reforça defesa da soberania e critica apoio interno
Lula criticou a atuação de agentes brasileiros na crise provocada pela tarifa. Ele disse que tentativas de interferência estrangeira na justiça são inaceitáveis:
"Contamos com poder judiciário independente. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional. Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo", afirmou.
O presidente informou que tem mantido encontros com representantes dos setores econômicos afetados para avaliar soluções e construir uma resposta coordenada.
Lula propõe cobrança de imposto sobre empresas digitais dos EUA
Durante o pronunciamento, Lula também anunciou que o governo pretende cobrar impostos das big techs norte-americanas que atuam no Brasil. O presidente afirmou que não permitirá ataques ao sistema Pix e que as empresas de tecnologia devem cumprir as leis brasileiras.
Mais cedo, em um evento com estudantes em Goiânia, Lula reforçou o posicionamento sobre a tributação e regulação das plataformas digitais:
"A gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais. Nós não aceitamos que, em nome da liberdade de expressão, você fica utilizando para fazer agressão, para fazer mentira", disse. Lula acrescentou que o país vai seguir monitorando o comportamento dessas corporações e cobrando responsabilidade.
Em entrevista internacional, Lula critica postura de Trump
Durante conversa com a CNN Internacional, o presidente brasileiro subiu o tom ao comentar a postura do republicano Donald Trump. Lula afirmou que Trump desrespeita protocolos diplomáticos e tenta impor sua vontade sobre outros países.
"O que não pode é o presidente Trump esquecer que ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos e não foi eleito para ser imperador do mundo. Seria muito melhor se estabelecer uma negociação e fazer um acordo possível, porque nós somos dois países que temos uma reunião muito boa há 201 anos", afirmou.
Segundo Lula, Trump está rompendo a liturgia exigida nas relações entre chefes de Estado. O presidente disse ainda que o Brasil está dialogando com outras autoridades americanas e também preparando uma resposta diplomática e institucional.
Casa Branca responde e defende política ambiental dos EUA
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu às declarações do presidente Lula. Segundo ela, o governo dos Estados Unidos está apenas defendendo seus interesses econômicos, em especial no setor de tecnologia e inovação.
"O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte para os Estados Unidos e também é o líder do mundo livre. Há anos sabemos que as regulamentações digitais do Brasil e as fracas proteções de propriedade intelectual minam as empresas de tecnologia e inovação dos Estados Unidos", declarou.
Leavitt também criticou a política ambiental brasileira e afirmou que o país tolera práticas que prejudicam produtores americanos. Segundo ela, os padrões ambientais do Brasil são mais fracos, o que gera desvantagem competitiva para empresas que seguem normas mais rigorosas nos EUA.
Trump publica carta de apoio a Bolsonaro
Em meio à crise comercial, Donald Trump usou as redes sociais para manifestar apoio a Jair Bolsonaro. Em uma carta pública, o ex-presidente norte-americano afirmou que Bolsonaro sofre um "tratamento terrível" e pediu que os processos contra ele sejam encerrados imediatamente.
Trump também alegou que Bolsonaro lidera as pesquisas eleitorais no Brasil, apesar de a informação não ser verdadeira. No texto, o republicano disse que o governo brasileiro impõe "um regime ridículo de censura" e persegue opositores políticos.
O ex-presidente brasileiro respondeu por meio de um vídeo publicado em suas redes. Jair Bolsonaro agradeceu a carta de solidariedade, reafirmou que defende a anistia como forma de negociar a redução das tarifas e demonstrou alinhamento com a política de Trump.
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