Assinatura genética pode prever Alzheimer
Variante pode acelerar a degeneração do cérebro
Por: Ana Beatriz Fernandez Martinez
17/07/2025 • 16:05
Uma nova descoberta de neurologistas mostra que uma variante genética associada ao Alzheimer de início precoce também pode aumentar a chance de desenvolver outras doenças neurológicas graves. A variante em questão, chamada APOE ε4 (Apolipoproteína E tipo épsilon 4), já era conhecida por elevar o risco de Alzheimer, mas agora foi ligada também a condições como Parkinson, demência frontotemporal e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
O Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva que compromete a memória, o raciocínio e outras funções mentais. É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e representa mais da metade dos casos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
O primeiro sinal geralmente é o esquecimento de eventos recentes. Com o avanço da doença, surgem dificuldades com lembranças antigas, confusão sobre tempo e espaço, alterações de humor e problemas na fala e na comunicação.
A pesquisa foi publicada na revista Nature Medicine, em 15 de julho, e utilizou um dos maiores bancos de dados proteômicos já analisados. Os cientistas avaliaram mais de 250 milhões de proteínas em amostras de 11.270 pessoas, com e sem sinais de doenças neurológicas.
Coordenado por Caitlin Finney e Artur Shvetcov, do Instituto Westmead, na Austrália, o estudo identificou uma assinatura proteica comum em pessoas com a variante APOE ε4. Esse padrão estava presente no sangue e no líquido cefalorraquidiano, mesmo em indivíduos sem sintomas neurológicos aparentes — um achado que pode ser fundamental para a detecção precoce de risco.
Os dados também revelaram que essa assinatura está ligada a inflamações e hiperatividade do sistema imune, o que pode criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de várias doenças neurodegenerativas.
Ao analisar tecidos cerebrais post-mortem de indivíduos com Alzheimer, Parkinson e ELA, os cientistas notaram que a assinatura ε4 estava presente mesmo na ausência das proteínas normalmente associadas a essas doenças (como tau, amiloide e alfa-sinucleína). Isso indica que a variante APOE ε4 pode funcionar como um gatilho genético geral para danos cerebrais, que é potencializado por fatores como idade e estilo de vida.
Riscos associados
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Uma cópia da variante ε4 aumenta o risco de Alzheimer em até 3 vezes;
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Duas cópias, herdadas do pai e da mãe, elevam esse risco para 10 a 15 vezes;
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Cerca de 38% dos analisados tinham a variante e 40% apresentavam alguma doença neurodegenerativa.
A possibilidade de identificar a assinatura proteica associada ao gene APOE ε4 mesmo antes do surgimento dos sintomas pode abrir caminhos para tratamentos preventivos mais eficazes e personalizados no futuro, reforçando a importância de testes genéticos e acompanhamento clínico em grupos de risco.
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