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Vacina contra zika avança com sucesso em testes da USP

Imunizante usa plataforma semelhante à de vacinas consagradas e bloqueia infecção em modelo animal

Por: Lorena Bomfim

16/07/202513:35

Pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) deram um passo importante no desenvolvimento de uma vacina contra o vírus zika. Os testes laboratoriais realizados em camundongos geneticamente modificados apresentaram resultados positivos: o imunizante se mostrou seguro e eficaz.

imagem do Imunizante
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Segundo os cientistas, a vacina induziu a produção de anticorpos capazes de neutralizar o vírus zika. Além disso, os testes demonstraram que o imunizante impediu que a infecção evoluísse, evitando o surgimento de sintomas e lesões nos animais. Os pesquisadores também analisaram os efeitos da infecção em diversos órgãos, como rins, fígado, ovários, cérebro e testículos. Os resultados foram especialmente satisfatórios no cérebro e nos testículos.

A vacina utiliza uma tecnologia conhecida como "partículas semelhantes ao vírus" (VLPs, na sigla em inglês), que simula a estrutura do vírus, mas sem conter material genético, tornando a aplicação mais segura. Essa plataforma já é usada em vacinas contra doenças como hepatite B e HPV. Um dos diferenciais é que esse tipo de imunizante dispensa o uso de adjuvantes — substâncias que aumentam a resposta imunológica.

A produção da vacina também se destaca pelo uso de biotecnologia em sistemas procarióticos, ou seja, utilizando bactérias. Essa estratégia permite uma produção em larga escala, embora exija cuidados com possíveis toxinas bacterianas. A mesma abordagem já havia sido empregada pela equipe em pesquisas para uma vacina contra a covid-19.

O projeto é liderado pelo pesquisador Gustavo Cabral de Miranda, que esteve em Oxford entre 2014 e 2017, onde participou do desenvolvimento da plataforma usada pela AstraZeneca na vacina contra a covid-19. Segundo Miranda, a tecnologia usada nas vacinas é composta por dois elementos principais: uma partícula que "chama a atenção" do sistema imunológico (a VLP) e o antígeno viral, responsável por estimular a produção de anticorpos. No caso da vacina contra zika, o antígeno utilizado foi o EDIII, uma parte da proteína do envelope do vírus, que se liga aos receptores das células humanas.

Agora, os pesquisadores buscam financiamento para iniciar os testes em humanos — uma etapa que exige investimento alto, da ordem de milhões de reais. Enquanto isso, a equipe também explora outras possibilidades, como vacinas de RNA mensageiro e estratégias diferentes de imunização.

"Produzir uma vacina não é simples. Hoje, a maioria das fábricas trabalha com vacinas tradicionais, e por isso elas têm mais chances de avançar. Mas queremos ampliar essa capacidade aqui no Brasil", afirmou Miranda. Para ele, desenvolver tecnologias próprias é essencial para garantir que o país tenha autonomia na produção de vacinas, seja no presente ou no futuro.

As pesquisas contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).