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Brasil fortalece uso de moedas locais no Mercosul em meio à pressão do dólar

Sistema de Pagamentos em Moeda Local cresce e amplia exportações para Argentina

Por: Iago Bacelar

24/07/202508:58

O Brasil tem intensificado as operações comerciais com moedas locais entre países do Mercosul, mesmo com a predominância do dólar nas exportações e importações. Desde 2008, o Banco Central administra o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), que permite transações sem a necessidade de uma moeda intermediária. A prática antecede as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende alternativas à moeda norte-americana no comércio internacional.

Brasil fortalece uso de moedas locais no Mercosul em meio à pressão do dólar
Foto: Divulgação/Mercosul

No dia 9 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, válida a partir de 1º de agosto. A medida ocorre após Lula reforçar a ideia de criar uma nova moeda do Brics e diminuir a dependência do dólar.

Negociações com os Estados Unidos

O governo brasileiro negocia uma possível redução da tarifa, que é a mais alta já imposta pelo governo Trump. Parceiros como Reino Unido, Indonésia e Japão já fecharam acordos com os Estados Unidos. O Brasil, no entanto, ainda aguarda resposta da Casa Branca, que não respondeu a duas cartas enviadas pelo Palácio do Planalto.

Lula afirmou que busca maior autonomia para o país. “Queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre e as coisas estão acontecendo de forma maravilhosa”, disse em entrevista ao Jornal Nacional.

Exportações para Argentina, Paraguai e Uruguai

O SML possui convênios com os bancos centrais da Argentina, Paraguai e Uruguai. A Argentina lidera como principal destino das exportações realizadas pelo sistema, com R$ 3,38 bilhões registrados em 2024. Em seguida aparecem Paraguai e Uruguai, com R$ 829 milhões e R$ 376 milhões, respectivamente.

Até abril de 2025, as exportações brasileiras via SML somam R$ 1,45 bilhão para a Argentina, o que representa pouco mais de um terço do total registrado em 2024. No mesmo período, as vendas para Paraguai alcançaram R$ 298 milhões e para Uruguai, R$ 196,3 milhões.

Crescimento das importações no sistema

No caso das importações, o Paraguai lidera a lista de países fornecedores. Em 2024, o Brasil comprou R$ 161,6 milhões em bens e serviços do país vizinho. Em seguida aparecem Uruguai, com R$ 54,31 milhões, e Argentina, com apenas R$ 1,75 milhão.

Nos primeiros quatro meses de 2025, as importações somaram R$ 68,4 milhões vindos do Paraguai e R$ 21,8 milhões do Uruguai, sem registros de compras da Argentina.

Vantagens do SML para empresas e consumidores

O sistema permite que exportadores e importadores fixem preços diretamente em reais ou na moeda do país parceiro, eliminando riscos com variações cambiais e custos adicionais com contratos de câmbio. Tanto empresas quanto pessoas físicas podem utilizar o sistema.

Além disso, a Argentina autoriza apenas o comércio de bens via SML, enquanto Paraguai e Uruguai permitem operações de bens, serviços e transferências unilaterais.

Dólar como referência mundial

O dólar se consolidou como principal moeda de referência desde 1944, com o Acordo de Bretton Woods, firmado após a Segunda Guerra Mundial. O tratado buscou criar estabilidade financeira internacional e deu origem ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial. A partir desse acordo, o dólar passou a ser usado como base para precificação global e reservas internacionais.

Comércio brasileiro deve seguir ampliando alternativas

O crescimento do uso do SML demonstra uma tendência de diversificação das formas de pagamento no comércio exterior brasileiro. Com as negociações tarifárias em curso e o aumento da demanda dos países vizinhos, o governo pretende fortalecer a utilização de moedas locais como alternativa à moeda norte-americana.