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EUA sem Pix: o que impede essa inovação

Fragmentação e lucro são obstáculos

Por: Ana Beatriz Fernandez Martinez

21/07/202507:00

O Pix revolucionou a forma de fazer transações financeiras no Brasil. Com transferências instantâneas, 24 horas por dia, 7 dias por semana, e sem custo direto para pessoas físicas, o sistema conquistou milhões de brasileiros em tempo recorde. Diante desse sucesso, surge uma pergunta natural: por que os Estados Unidos, uma das maiores potências tecnológicas do mundo, ainda não adotaram algo parecido?

cartao de credito/maquina
Foto: Reprodução/freepik

A resposta envolve uma combinação de fatores culturais, econômicos e estruturais do sistema financeiro norte-americano.

Nos EUA, os cartões de crédito são amplamente utilizados,  até mesmo para transações simples, como comprar um café. Além disso, o uso de cheques ainda é comum, especialmente para pagamentos entre empresas, aluguel e até salários. Como essas formas de pagamento são culturalmente consolidadas, não há uma pressão social ou política urgente para substituí-las por um sistema como o Pix.


Diferente do Brasil, onde o Banco Central tem um papel forte na regulação e inovação do sistema financeiro, os Estados Unidos possuem uma estrutura bancária descentralizada, com milhares de bancos independentes. Essa fragmentação dificulta a implementação rápida e uniforme de um sistema único como o Pix, que depende da integração de diversas instituições.


O Pix representa um desafio direto ao modelo de negócios das operadoras de cartões e instituições financeiras que lucram com tarifas de transações, anuidades e taxas sobre crédito e débito. Nos EUA, esse mercado movimenta bilhões de dólares por ano, e não há grande interesse dos bancos em abrir mão dessas receitas para adotar uma solução gratuita ou de baixo custo.

 Soluções como Zelle e Venmo oferecem transferências digitais entre contas bancárias, mas com algumas limitações. Muitas vezes, essas plataformas têm restrições de horário, valor ou exigem que as duas partes usem o mesmo app ou banco. Ou seja, não têm a mesma agilidade e universalidade que o Pix oferece no Brasil.

Por incrível que pareça, apesar de ser um polo de inovação global, os EUA adotam novas tecnologias financeiras com certa lentidão. Isso vale especialmente quando envolve mudanças estruturais no sistema bancário, que é complexo, regulado e influenciado por grandes corporações com forte lobby político.

A cultura norte-americana também valoriza muito a privacidade financeira. Sistemas instantâneos e públicos, como o Pix, podem gerar preocupações com rastreamento de dados ou segurança cibernética. Apesar de o Pix ser seguro e bem regulado, esse tipo de desconfiança ainda freia a aceitação de modelos semelhantes fora do Brasil.