Brasil amplia exportações para a Argentina com alta na venda de carne bovina
Venda de carne bovina cresce 22 vezes no primeiro semestre de 2025
Por: Iago Bacelar
25/07/2025 • 17:00
As exportações do Brasil para a Argentina tiveram crescimento expressivo entre janeiro e junho de 2025. Os veículos de passageiros lideraram a lista, representando 21,6% do total, seguidos por autopeças e acessórios, com 9,7%, e veículos para transporte de mercadorias, com 6,4%.
Outro dado de destaque é o aumento das vendas de carne bovina, que passaram de aproximadamente US$ 1 milhão no primeiro semestre do ano passado para US$ 22,9 milhões no mesmo período de 2025. As informações são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Mercado argentino absorve mais carne brasileira
Apesar do crescimento, a participação da carne brasileira no mercado argentino ainda é pequena, representando apenas 0,25% do total exportado. Historicamente, frigoríficos estrangeiros utilizam carne do Brasil em produtos processados, como hambúrgueres. No entanto, desde este ano, parte da carne também tem sido direcionada a cortes diretos, segundo representantes do setor.
Um apresentador da TV Crónica comentou a mudança no mercado local.
"É algo insólito. No país conhecido pela sua carne e churrasco, estamos agora importando esse tipo de alimento do Brasil. É mais barato importar do que produzir aqui", afirmou o comunicador.
Em março, o quilo da carne brasileira era vendido por 9.000 pesos argentinos em cidades da Patagônia, enquanto a carne nacional custava cerca de 22 mil pesos.
Produtos estrangeiros ganham espaço no varejo argentino
O fenômeno não se restringe à carne. Consumidores têm observado produtos como pão fatiado brasileiro e leite uruguaio sendo vendidos a preços mais competitivos do que os locais. Para muitos argentinos, importar tornou-se uma alternativa mais econômica para abastecer suas casas.
No sentido inverso, o Brasil comprou US$ 6,2 bilhões em produtos argentinos no primeiro semestre deste ano, alcançando um superávit comercial de US$ 3 bilhões favorável ao Brasil. A intensificação das relações comerciais ocorre em meio à aproximação diplomática entre Lula e Javier Milei.
Liberalização comercial impulsiona importações argentinas
De acordo com a consultoria Argendata, as importações da Argentina atingiram 32% do PIB no primeiro trimestre de 2025, o maior índice registrado em 135 anos. Esse aumento está relacionado à política de liberalização comercial implementada pelo governo Milei, que reduziu tarifas e desregulamentou setores estratégicos, facilitando a entrada de produtos estrangeiros.
Outro fator que favorece a compra de produtos brasileiros é a valorização do peso argentino em relação ao dólar, tornando os bens importados mais acessíveis aos consumidores. Essa valorização também tem incentivado o turismo internacional, com argentinos cruzando fronteiras para realizar compras.
Impactos internos e desafios para empresas argentinas
Segundo o economista Santiago Bulat, professor da IAE Business School, as importações estavam em níveis baixos no ano anterior devido às restrições econômicas. Ele aponta que houve um crescimento acentuado da atividade econômica nos primeiros meses de 2025, mas já se observam sinais de estagnação.
Apesar da melhora econômica, pequenas e médias empresas argentinas enfrentam dificuldades para competir com os preços dos importados. Dados recentes indicam que 11% dessas empresas exportadoras encerraram operações internacionais e 41,3% relataram queda nas vendas internas.
A associação das pequenas e médias empresas argentinas (IPA) alerta que as políticas de incentivo às importações não vieram acompanhadas de medidas de proteção para a indústria local. Setores como o têxtil e metalúrgico têm registrado aumento do desemprego.
Cenário futuro
Bulat avalia que, embora o crescimento das importações argentinas possa se manter até o fim do ano, a ausência de uma reforma tributária eficaz pode agravar a situação de setores mais pressionados pela elevada carga tributária provincial.
O comércio bilateral segue aquecido, e a expectativa é que o Brasil mantenha sua posição de destaque como um dos principais fornecedores da Argentina, especialmente em setores como automóveis e alimentos processados.
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