As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos afetam diretamente as exportações de commodities agrícolas brasileiras, com destaque para os setores de suco de laranja, café e carne bovina. A análise foi feita por Plinio Nastari, CEO da Datagro, em entrevista ao programa CNN Money.

De acordo com Nastari, o suco de laranja é um dos itens mais vulneráveis às novas medidas. Isso ocorre devido à forte interdependência comercial entre Brasil e Estados Unidos nesse setor. Os norte-americanos são os principais compradores do suco de laranja concentrado brasileiro, o que torna o impacto tarifário mais direto e expressivo.

Café brasileiro enfrenta dificuldades de substituição nos EUA

Outro setor diretamente afetado pelas medidas é o do café, especialmente a variedade arábica. Atualmente, cerca de uma em cada três xícaras de café consumidas nos Estados Unidos contém café brasileiro.

Segundo a análise, a substituição do café do Brasil não é simples, principalmente no curto prazo. A qualidade específica do produto brasileiro impõe dificuldades para que importadores encontrem alternativas no mercado internacional com o mesmo padrão.

Carne bovina e hambúrgueres também entram na conta

No setor de carne bovina, o Brasil exporta majoritariamente o produto conhecido como beef trimmings aos Estados Unidos, essencial para a produção de hambúrgueres.

A nova tarifação sobre esse item deve resultar no aumento do custo para os consumidores americanos, embora o produto represente apenas 12% do total exportado pelo Brasil nesse setor. Ainda assim, o impacto poderá ser significativo para as indústrias norte-americanas de fast-food e alimentação processada.

Açúcar e etanol entram na lista de produtos atingidos

O açúcar e o etanol também foram listados entre os produtos afetados pelas tarifas. No caso do etanol brasileiro, o destino principal é a produção de ETBE (etil-terc-butil éter) nos Estados Unidos. A elevação tarifária tende a reduzir a competitividade do produto.

Em relação ao açúcar, as medidas afetam tanto as exportações dentro da cota americana de 147 mil toneladas quanto as 140 mil toneladas anuais de açúcar orgânico que o Brasil envia ao país. Com isso, todo o segmento poderá sofrer reajustes e perda de mercado.

Mercado busca alternativas para mitigar impactos

A médio e longo prazo, o setor agroindustrial brasileiro busca diversificação de mercados para reduzir a dependência dos Estados Unidos, sobretudo em itens como café e suco de laranja. No entanto, os analistas apontam que a resposta imediata é limitada, já que as estruturas comerciais e logísticas envolvem contratos de longo prazo.

A análise da Datagro indica que, mesmo com a busca por novos parceiros comerciais, a reconfiguração das rotas de exportação e a adequação da produção às exigências de outros mercados exigirão tempo e investimentos.

O cenário ainda é incerto, e o impacto completo das tarifas dependerá da manutenção das medidas pelos EUA, da reação dos produtores brasileiros e da resposta do governo brasileiro no plano diplomático e comercial.