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Política

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STF agenda depoimento dos militares do núcleo 3 da trama golpista

Réus responderão remotamente sobre plano golpista em 28 de julho

Por: Ana Beatriz Fernandez Martinez

23/07/202511:25

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou para o dia 28 de julho os interrogatórios de 10 militares e de um policial federal acusados de envolvimento na suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O grupo, que ficou conhecido como os “kids pretos”,  devido à vestimenta usada em uma reunião sigilosa, faz parte do chamado núcleo 3 da investigação conduzida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), e é apontado como responsável por elaborar e discutir ações violentas com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Segundo a denúncia da PGR, os acusados teriam participado de uma reunião em 28 de novembro de 2022, na qual discutiram a elaboração de uma carta golpista endereçada aos comandantes das Forças Armadas, pedindo que impedissem a posse de Lula. A intenção, segundo a investigação, era provocar “um fato de forte impacto e mobilização social” que gerasse comoção suficiente para justificar uma intervenção militar ou deslegitimar o resultado das eleições.

Além disso, o grupo também teria debatido ações como o assassinato de autoridades, entre elas o próprio Moraes, o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. As conversas teriam acontecido sob a supervisão de militares da ativa e da reserva, com ramificações entre membros das Forças Armadas, empresários bolsonaristas e influenciadores digitais.

Os interrogatórios ocorrerão de forma virtual, com condução de um juiz auxiliar do gabinete de Moraes e acompanhamento remoto dos advogados e da PGR. A ordem dos depoimentos seguirá critério alfabético, começando pelo coronel Bernardo Romão Corrêa Netto. O grupo responde por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa armada, incitação ao crime e dano qualificado.

A audiência faz parte da fase de instrução da ação penal que envolve réus dos núcleos 3 e 4 da investigação. O núcleo 3 reúne militares ligados a planos de atentados e ações violentas, enquanto o núcleo 4 envolve operadores da desinformação, como o ex-deputado federal Daniel Silveira e o ex-vereador Carlos Bolsonaro, suspeitos de participar da estrutura de divulgação de fake news contra o sistema eleitoral e instituições democráticas.

O ministro Moraes já havia marcado, entre os dias 14 e 23 de julho, as oitivas de testemunhas desses núcleos, e os depoimentos dos réus são considerados uma etapa fundamental antes da definição de possíveis sentenças ou desmembramentos do processo.

Essa parte do inquérito está inserida na Operação Tempus Veritatis, que evoluiu para a Operação Contragolpe, nome dado à ação da Polícia Federal que revelou os bastidores da tentativa de golpe. Essa operação atingiu diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é investigado por liderar uma estrutura paralela voltada para sabotar as eleições, deslegitimar o processo democrático e preparar um ambiente de ruptura institucional.

Além dos “kids pretos”, a operação já resultou em medidas judiciais contra diversos aliados de Bolsonaro, entre eles militares da ativa, ex-ministros, empresários e operadores de redes sociais. Ao todo, mais de 40 pessoas foram denunciadas, e outras seguem sendo investigadas conforme os desdobramentos das oitivas e da análise de provas obtidas em mandados de busca, apreensão e delação premiada.

A expectativa é que os depoimentos do dia 28 forneçam novas evidências sobre como funcionava o núcleo operacional do plano golpista e o nível de envolvimento dos acusados. Segundo Moraes, a gravidade das acusações exige celeridade na instrução, mas também rigor técnico e jurídico para garantir a integridade do processo.