Babalorixá fala sobre intolerância e defende respeito às tradições do Candomblé
Durante entrevista, Diorgenes de Ayrá destacou a importância da denúncia e da preservação da oralidade nas religiões de matriz africana
Por: Domynique Fonseca
28/10/2025 • 13:01 • Atualizado
Na edição do programa Portal Esfera no Rádio, transmitido pela Itapoan FM (97,5) e apresentado por Luis Ganem, nesta terça-feira, 28, recebeu o babalorixá Diorgenes de Ayrá, do terreiro Ilê Àse Ojú Aféfé Èdun Àrá, que falou sobre o preconceito e a intolerância religiosa enfrentados por praticantes de religiões de matriz africana.
Durante a entrevista, Diorgenes refletiu sobre as causas do preconceito, destacando que parte da exposição indevida das tradições na internet tem contribuído para a banalização do Candomblé.
“O Candomblé é uma religião de oralidade, passada de pai para filho. Hoje, muita coisa é ensinada e exposta nas redes sociais, e isso acaba abrindo espaço para discriminações. Uma casa de respeito mantém sua tradição e não expõe sua intimidade”, afirmou o babalorixá.
Diorgenes também relatou casos de intolerância que presenciou, como o episódio ocorrido dentro do metrô de Salvador, quando um jovem recém iniciado, foi insultado por pessoas de outra religião.
“Eu não o conhecia, mas intervi. O problema da intolerância é a falta de denúncia. Existem órgãos que nos apoiam, como a Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (FENACAB), que nos dá respaldo jurídico e suporte institucional”, explicou.
Segundo ele, apesar dos avanços, o medo ainda impede muitos praticantes de denunciarem casos de discriminação.
“Já fui vítima de intolerância em vários lugares. Mas hoje há um acolhimento maior. Na delegacia, quando o policial pergunta se o caso é de intolerância religiosa, ele já direciona para o órgão responsável. Isso mostra que estamos evoluindo”, destacou.
O babalorixá também relembrou o período em que o Candomblé era perseguido pelas forças policiais.
“Antes, não podíamos tocar atabaques, usar branco ou realizar cerimônias após certo horário. A polícia invadia os terreiros e quebrava nossos instrumentos. Hoje, ver órgãos públicos defendendo nossa fé é algo muito importante”, completou.
Diorgenes reforçou que sua casa de axé mantém uma doutrina baseada na tradição e na conduta ética dos membros. Ele ressaltou o papel da formação interna e da transmissão dos saberes por meio dos mais velhos.
“Cada casa tem seus próprios ensinamentos. A gente aprende a se portar, a cuidar dos orixás, das cores, das danças, das comidas. Não existe cartilha, o aprendizado vem da convivência e do respeito aos mais velhos”, explicou.
O sacerdote ainda lamentou o fato de muitos seguidores esconderem sua fé por medo do preconceito.
“Ainda há quem tenha vergonha de dizer que é do Candomblé. Eu atendo pessoas que não podem nem molhar a cabeça com medo da reação em casa. Isso é perder o direito à fé. As pessoas ainda temem ser discriminadas por aquilo em que acreditam”, concluiu Diorgenes de Ayrá.
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