"Terreiro é um espaço de escuta e acolhimento", diz babalorixá
Líder religioso explicou como as casas de axé funcionam como espaços de fé, acolhimento e preservação da tradição oral
Por: Domynique Fonseca
28/10/2025 • 17:30 • Atualizado
O babalorixá Diorgenes de Ayrá, do terreiro Ilê Àse Ojú Aféfé Èdun Àrá, foi o convidado desta terça-feira (28) do programa Portal Esfera no Rádio, transmitido pela Itapoan FM (97,5) e apresentado por Luis Ganem. Durante a entrevista, ele falou sobre o papel social dos terreiros de Candomblé, o acolhimento espiritual oferecido às pessoas e a preservação das tradições da religião de matriz africana.
“O terreiro é uma comunidade. Lá tem várias pessoas. Quando alguém entra para dar obrigação, fica praticamente um mês dentro da casa. É uma função social e também educativa, como se fosse um retiro. Há equipes para cozinhar, lavar, passar roupa, limpar a casa e realizar as atividades religiosas”, explicou o sacerdote.
Além das obrigações religiosas, Diorgenes contou que o terreiro também é um espaço de escuta e acolhimento.
“Atendo todos os dias pela manhã, jogo búzios e converso com quem me procura. Tem gente que vai só para desabafar, pedir um abraço ou contar sua história. Muitas pessoas estão feridas espiritualmente e encontram no Candomblé um consolo, um afago. A casa de Candomblé tem as portas abertas”, afirmou.
O babalorixá destacou ainda que cada casa tem sua própria doutrina e modo de ensinar, baseados na oralidade e no respeito aos mais velhos.
“No Candomblé não existe uma cartilha. O aprendizado vem da convivência. O mais velho ensina o mais novo como se portar, o que fazer, o que dizer, as cores, as músicas, as comidas e as danças de cada orixá. Dentro de cada comunidade há seus próprios ensinamentos”, ressaltou.
Para Diorgenes, o compromisso com a tradição caminha junto com o compromisso social.
“A gente realiza trabalhos de formação, de manutenção da tradição e também de incentivo ao bem. Ser de Candomblé é lutar contra a discriminação e fortalecer a fé. Ainda há muitas pessoas com medo de dizer que pertencem à religião, mas seguimos firmes, mantendo nossa ancestralidade viva”, concluiu.
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