Tarifa dos EUA ameaça exportações de tilápia e carne de MS
Produtores suspendem envios e buscam novos mercados após anúncio de sobretaxa de 50%
Por: Lorena Bomfim
20/07/2025 • 21:30
Produtores de tilápia e carne bovina de Mato Grosso do Sul estão preocupados com a tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida afeta diretamente o setor de piscicultura no estado, já que quase toda a produção de tilápia é exportada para os EUA.
Segundo a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), 99,6% da tilápia produzida no estado tem como destino o mercado norte-americano. O valor exportado gira em torno de US$ 3,2 milhões. Mato Grosso do Sul é o 5º maior produtor de tilápia do Brasil, conforme o Anuário da Piscicultura 2024, da Peixe BR.
Para minimizar os prejuízos, exportadores buscam renegociar contratos com parceiros nos EUA. “Temos conversado com os nossos clientes para encontrar o melhor caminho, com o menor impacto possível. Não sabemos se será necessário renegociar preços ou se parte do custo será repassado ao consumidor”, afirma José Charl Noujaim, gerente de exportação de uma indústria do setor.
Estoques e impacto no mercado interno
Noujaim alerta que o consumidor brasileiro pode se beneficiar com uma possível queda nos preços, mas o setor industrial corre o risco de acumular estoques. “A indústria terá que reprogramar a produção. Com preços mais baixos, a operação se torna inviável, pois não cobre os custos. Estoques elevados geram despesas adicionais com armazenagem”, explica.
No frigorífico onde atua, cerca de 25% da produção mensal — cerca de 250 toneladas — é destinada aos Estados Unidos. O principal produto exportado é o filé de tilápia resfriado, com logística aérea que exige alto investimento. Caso a tarifa seja mantida, a operação pode perder a viabilidade. “Imagine ter que pagar armazenagem e ainda vender o produto abaixo do custo de produção”, diz o gerente.
Apesar de os filés serem congelados e com validade estendida, o impacto imediato será o aumento da oferta no mercado interno, pressionando os preços no Brasil.
Suspensão na produção de carne bovina para os EUA
O setor pecuário também foi afetado. Frigoríficos de Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carne bovina destinada aos EUA, segundo o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems). A produção para o mercado interno segue normal.
De acordo com o vice-presidente do sindicato, Alberto Sérgio Capucci, a medida visa evitar o acúmulo de carne estocada, que já não pode ser enviada aos EUA sem a nova taxação. “Produzir agora para os Estados Unidos significa ter a carga taxada ao chegar lá. Isso inviabiliza financeiramente a operação”, afirma.
Pelo menos quatro frigoríficos suspenderam a produção para o mercado norte-americano:
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JBS
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Naturafrig
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Minerva Foods
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Agroindustrial Iguatemi
Apenas o Naturafrig se pronunciou oficialmente, informando que 5% de sua produção era voltada ao mercado dos EUA.
A Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec) também confirmou a queda no fluxo de produção voltado aos EUA.
Redirecionamento para novos mercados
O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, informou que os frigoríficos suspenderam os abates destinados ao mercado norte-americano e buscam alternativas comerciais. Segundo ele, há um volume significativo de carne estocada que não chegará a tempo aos EUA antes da nova tarifa, válida a partir de 1º de agosto.
“Com o prazo apertado, os frigoríficos estão ajustando suas escalas para tentar redirecionar os produtos. Já avaliamos países como Chile e Egito como potenciais novos mercados”, explica Verruck.
O secretário ressalta que o processo de redirecionamento é gradual e depende da competitividade de preços. Enquanto isso, o mercado interno pode registrar excesso de oferta e queda nos preços, afetando a rentabilidade dos produtores. “É um momento extremamente complexo”, resume.
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