A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira levou os frigoríficos nacionais a repensarem seus próximos embarques para o país norte-americano. A informação foi confirmada por Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), em entrevista à Reuters na última terça-feira (15).

Segundo Perosa, a medida anunciada na semana passada causou forte impacto no setor: "Novos embarques estão sob análise do setor privado por conta da alta da tarifa", afirmou. Os Estados Unidos são o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China, de acordo com dados de comércio exterior.

A repercussão da tarifa foi imediata. Empresas do setor reduziram consideravelmente as compras de gado, refletindo a incerteza gerada pela decisão de Washington. "O mercado esfriou", avaliou Alcides Torres, analista da Scot Consultoria, especializado no mercado pecuário.

Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 23% da carne bovina importada pelos EUA, segundo estimativas da Genial Investimentos. A alta taxa imposta por Trump pode comprometer essa participação, além de elevar os preços da carne ao consumidor americano, diante da atual escassez de gado no país.

Desde o anúncio da nova tarifa, os frigoríficos têm buscado reprogramar embarques e redirecionar a produção. Algumas empresas chegaram a interromper temporariamente a produção voltada aos EUA, segundo Perosa.

Entre as afetadas está a Minerva, que informou que cerca de 5% da sua receita líquida vem das vendas ao mercado norte-americano. Em maio, após divulgar seus resultados do primeiro trimestre, a Genial destacou que a empresa já havia transferido parte da produção para os EUA de forma antecipada, numa tentativa de minimizar o impacto de possíveis sanções comerciais.

Procurada, a Minerva informou que não irá comentar sobre a nova política tarifária.

Analistas alertam que a imposição da tarifa pode dificultar o acesso da carne brasileira ao mercado americano e impactar o consumidor final com aumento de preços. Com os frigoríficos brasileiros em compasso de espera, o cenário futuro para as exportações do setor segue incerto.