Quem é o general que assumiu autoria do plano para matar Lula e aliados
Mario Fernandes disse que o plano era apenas um “pensamento digitalizado”
Por: Iago Bacelar
25/07/2025 • 13:30 • Atualizado
O general Mario Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), admitiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ter sido o autor do plano chamado de Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Durante interrogatório nesta quinta-feira (24), o militar negou ter compartilhado o documento com outras pessoas. Ele classificou o conteúdo como uma análise pessoal e não como um plano de execução real.
Mario Fernandes iniciou a carreira militar em 1983 na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Foi promovido a general de brigada em 2016 e entre 2018 e 2020 chefiou o Comando de Operações Especiais. No governo Bolsonaro, atuou como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência e chegou a comandar interinamente a pasta.
O general também foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde. Ele esteve entre os nomes identificados pela PF como integrantes do núcleo mais radical ligado ao governo Bolsonaro, com atuação em acampamentos golpistas após as eleições de 2022.
Ligação com o governo Bolsonaro
Conforme a PF, três cópias do documento foram impressas dentro do Planalto, e pouco depois Fernandes esteve no Palácio da Alvorada, onde Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid se encontravam. A Procuradoria-Geral da República (PGR) suspeita que o ex-presidente tinha conhecimento integral do plano.
De acordo com a delação de Mauro Cid, Fernandes estaria entre os generais que mais incentivavam uma intervenção das Forças Armadas para impedir a posse de Lula e promover um golpe de Estado.
Em novembro de 2024, Fernandes foi preso preventivamente sob a suspeita de participação na elaboração do plano para assassinar as autoridades. A operação da PF revelou detalhes do esquema, incluindo os alvos, as datas e o arsenal envolvido.
As investigações continuam sob sigilo e buscam esclarecer a extensão do envolvimento de outros militares e autoridades. Até o momento, a PF aponta que Jair Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” das ações discutidas por Fernandes e outros aliados próximos.
O plano Punhal Verde e Amarelo
Segundo a Polícia Federal (PF), o plano detalhava a eliminação das autoridades em 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O projeto previa o uso de veneno como método de ataque e a instalação de um Gabinete Institucional de Gestão da Crise no dia seguinte.
A PF aponta que o plano envolvia militares das Forças Especiais do Exército, conhecidas como kids pretos, e que havia um arsenal de guerra disponível, incluindo pistolas, fuzis, metralhadoras e um lança-granada. As investigações indicam ainda que Moraes era monitorado de forma constante.
Depoimento no STF
Fernandes afirmou que o material seria apenas um exercício mental que decidiu digitalizar. Segundo ele, o documento foi impresso apenas para facilitar a leitura e, em seguida, destruído.
“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilar de dados, um estudo de situação meu, uma análise de riscos que eu fiz e por costume próprio resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém e nem compartilhado com ninguém”, declarou.
O general foi questionado sobre a impressão de três cópias do documento no Palácio do Planalto, além de uma nova impressão cerca de um mês depois. Ele disse não se recordar da quantidade e afirmou que pode ter sido resultado de configurações da impressora. Sobre a segunda impressão, afirmou que alterou o texto após “uma nova ideia”.