Servidor afirma que governo Bolsonaro tentou ligar Lula a facção
Demanda era para investigar volume de votos em áreas ligadas ao CV
Por: Victor Hugo Ribeiro
14/07/2025 • 16:20 • Atualizado
Durante uma sessão no Ministério da Justiça nesta segunda-feira (14), o analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, afirmou que teria recebido ordens para compilar dados que pudessem ligar o então candidato à Presidência da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, a facções criminosas.
“Chegou um pedido para tentar ver essa análise de correlação estatística da concentração de votos em territórios do CV [Comando Vermelho] no Rio de Janeiro, para saber se havia correlação, para ver se o candidato à época, Lula, tinha maior concentração de votos em áreas dominadas por facção criminosa”, afirmou Vieira.
Em um desdobramento da investigação sobre o que se suspeita ser uma trama golpista, Clebson Vieira, um analista de dados, revelou que, a partir de 2022, passou a receber requisições de informações eleitorais com um viés político. Essas demandas partiam de Marília de Alencar, então diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e que agora é ré no processo. Vieira detalhou que, em uma das solicitações, foi pedido que identificasse as localidades onde cada candidato presidencial havia obtido mais de 75% dos votos no primeiro turno.
No entanto, segundo o analista, apenas os dados referentes a Luiz Inácio Lula da Silva foram de fato utilizados por seus superiores. Ele também confirmou ter expressado à sua esposa, via aplicativo de mensagem, o desconforto com a natureza politicamente direcionada de tais demandas, chegando a dizer que se sentia "muito mal" com uma requisição que vinha "diretamente da diretora".
Ações da Polícia Rodoviária Federal sob Escrutínio
Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), também depôs nesta segunda-feira. Ele reiterou informações de depoimentos anteriores, confirmando que houve "policiamento direcionado" durante as eleições de 2022. Alcântara indicou que a fiscalização de vans e ônibus foi intensificada em estados como Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Segundo ele, essa intensificação se deu em regiões de onde muitos eleitores costumam partir para o Nordeste, local onde Lula tradicionalmente obtém maior número de votos. Ele reforçou que, embora as orientações fossem "gerais", a fiscalização se tornou "mais intensificada" nesses estados específicos, repetindo o que já havia afirmado em outro processo penal relacionado ao suposto golpe.
Depoimentos Chave e Alvos da Investigação
As testemunhas de acusação estão sendo ouvidas no contexto da ação penal que visa o que a Procuradoria-Geral da República (PGR) identifica como o Núcleo 2 da trama golpista. Este grupo é apontado como responsável por ações estratégicas, incluindo o monitoramento de opositores, a elaboração de minutas e a coleta de dados para justificar uma eventual tomada de poder.
Entre os investigados desse núcleo estão Filipe Martins (ex-assessor de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro), Marcelo Câmara (também ex-assessor de Bolsonaro), Silvinei Vasques (ex-diretor da PRF), Mário Fernandes (general de Exército), Marília de Alencar (já mencionada) e Fernando de Sousa Oliveira (ex-secretário-adjunto de Segurança do Distrito Federal).
Na tarde de hoje, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do esquema, está sendo novamente ouvido. A audiência matutina foi conduzida pelo juiz Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, auxiliar no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais.
Relacionadas