Cálculos biliares afetam 20% dos brasileiros, afirma pesquisa
Mulheres são as mais afetadas e lideram internações no SUS
Por: Victor Hugo Ribeiro
23/07/2025 • 07:00
Uma pesquisa, publicada em 2024 pelo Brazilian Journal of Health Review e conduzida por cientistas brasileiros e bolivianos, afirma que 20% da população brasileira sofre com cálculos biliares, popularmente conhecidos como "pedras na vesícula". Os dados foram coletados entre 2019 e 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 1,3 milhão de internações de pacientes com mais de 15 anos relacionadas à condição.
A colecistectomia, cirurgia para a remoção da vesícula biliar, é um dos procedimentos abdominais mais frequentes no Brasil. O estudo, baseado em dados do Datasus, aponta que a incidência da colecistopatia calculosa é 3,1 vezes maior em mulheres do que em homens, com mais de um milhão de internações femininas mapeadas no período.
Apesar da alta frequência da cirurgia, uma dúvida comum persiste: como o corpo funciona sem a vesícula? Diferente do que muitos pensam, não é possível remover apenas as pedras; o órgão inteiro precisa ser retirado. A vesícula é responsável por armazenar a bile, substância produzida pelo fígado que auxilia na digestão de gorduras.
A boa notícia é que o corpo se adapta bem à ausência da vesícula. Após a remoção, a bile passa a fluir diretamente para o intestino, mesmo sem a ingestão de alimentos. Segundo especialistas, a recuperação da colecistectomia, indicada também em casos de suspeita de câncer, pancreatite por cálculo ou pólipos na vesícula, é geralmente tranquila e bem tolerada.
Por que as pedras se formam?
Os cálculos biliares surgem devido a um mau funcionamento da vesícula e a um desequilíbrio na composição da bile. Fatores de risco incluem obesidade, alterações no colesterol, perda de peso rápida (como após cirurgia bariátrica), idade acima de 40 anos, múltiplas gestações e cirurgias no esôfago e estômago.
Os sintomas típicos englobam dor no lado direito do abdômen (especialmente após refeições gordurosas), náuseas e má digestão. Mesmo assintomáticas, as pedras podem levar a complicações sérias, como pancreatite (inflamação no pâncreas) ou colecistite (inflamação na própria vesícula), tornando a cirurgia indispensável.
Após a cirurgia, alguns pacientes podem apresentar fezes amolecidas ou diarreia nas primeiras semanas, sobretudo após jejum prolongado ou consumo de alimentos gordurosos. No entanto, um cirurgião do aparelho digestivo do Einstein explica que, para a maioria dos pacientes com cálculos, a vesícula já não funciona adequadamente, e sua remoção (geralmente por laparoscopia, minimamente invasiva) traz apenas alívio dos sintomas.
A diarreia pós-cirúrgica pode ser controlada fracionando as refeições e evitando longos períodos sem comer. O especialista ressalta que "poucos pacientes operados referem intolerância a alimentos muito gordurosos. Geralmente, ocorre o inverso, ou seja, há uma melhora na digestão". Após um período inicial de recuperação de cerca de 30 dias que inclui evitar comidas muito gordurosas e atividades físicas intensas, a maioria das pessoas pode retomar uma vida normal, sem restrições significativas.